Por: Henrique Szklo, o Carneiro.
Quem nunca quis matar o sócio que atire a primeira duplicata.
Dizem que ter um sócio é uma experiência, no mínimo, complicada. Não vejo assim. Costumo enxergar sempre o lado bom das coisas, a parte positiva, as lições que se possa extrair até das tragédias, como, por exemplo, ter sócios. Pra começar, trata-se de uma excelente maneira de fortalecer o caráter e forjar uma personalidade equilibrada. Quem agüenta um sócio é capaz de enfrentar qualquer desafio. Uma espécie de "No limite" onde, ao invés de comer minhocas e olhos de cabra, engole-se sapos. Conseguir manter uma sociedade sem estrangular o sócio, picá-lo em pedacinhos e oferecê-lo aos cachorros é a prova definitiva de que você está preparado para a vida.
Dizem também que sociedade parece com casamento, já que começa em festa e acaba em baixaria. No matrimônio você trata o outro mal, xinga, grita, bate a porta na cara, ofende, faz o diabo, mas pelo menos tem sexo no final. Ou no começo. Até no meio, não importa. Já na sociedade você trata o outro mal, xinga, grita, bate a porta na cara, ofende e faz o diabo. Não tem sexo, mas em compensação tem muita sacanagem. Antes, durante e depois.
Mas admito: sócio é um bicho complicado, incontrolável, com idéias próprias (inevitavelmente diferentes das nossas), implicante, dono da verdade, um chato de galochas que sempre acha que trabalha mais que a gente, o que é um flagrante absurdo, já que é óbvio que é a gente que trabalha mais que ele. Nem se compara.
Quando o assunto é dinheiro, então, a sociedade passa por seus momentos mais espinhosos. Cada uma das partes sempre se acha lesada e acredita que merece um quinhão maior nos lucros. Sua empresa, por exemplo, anda pouco lucrativa? Tem certeza? É o que seu sócio diz ou você viu com os próprios olhos? É bom dar uma checada, só pra garantir. Acho sensato, inclusive, que você dê um jeitinho de ficar com uma parte maior, sem que ele fique sabendo, claro. Não há nada de errado nisso. Você estará apenas fazendo justiça. Aquele cretino merece ser passado para trás.
Uma vez fui a uma festa para comemorar a nova composição societária de uma produtora. De cinco sócios passava para três. Comentei com um dos remanescentes que se a festa era boa daquele jeito por ele ter se libertado de dois sócios, imagine o carnaval que vai ser quando ele se livrar dos outros dois. Seus olhinhos brilharam.
O sócio ganha em importância na falência. Além de contar com alguém para compartilhar as dívidas, você saberá imediatamente quem é o culpado por estar nesta situação ridícula. E se a falência for fraudulenta, então, você poderá de bom grado colaborar com a justiça, delatando o criminoso responsável por toda essa sujeira.
Contrair sociedade é bom, mas há limites. Imagine se Deus, por exemplo, para criar o mundo tivesse arrumado um sócio. Um iria querer o mundo redondo e o outro em forma de donuts. A um apeteceria fazer tudo em seis dias e descansar no sétimo e o outro preferiria fazer em um dia e descansar nos outros seis. Um desejaria criar o homem à sua imagem e semelhança e o outro ambicionaria que ele tivesse a cara da sua mãe. Quando mandassem um representante aqui pra baixo não poderia ser filho de nenhum dos dois, para não melindrar. Sabe como são os sócios.
Henrique Szklo, szklo@uol.com.br, é escritor, publicitário, autor do livro "Só porque criou o mundo pensa que é Deus" e procura um sócio capitalista.